São as coisas que estão a nossa volta

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segunda-feira, 22 de março de 2010

Ficção


Baseado em relatos reais extraido dos Arquivos Público do Estado, disponível para pesquisas e consultas, (http://www.arquivoestado.sp.gov.br/a_acervo.php); Registros dos inventários do DEOPS, sobre os cerca de 40 brasileiros que se juntaram as fileiras estrangeiras contra a ditadura de Francisco Franco, todos aqueles que ousarão partir em prol da liberdade, foram monitorados a pedido de Getúlio Vargas. Alguns retornaram mesmo sabendo que iriam ser perseguidos, outros tomaram outros caminhos ou perecerão em busca de um ideal de liberdade. Santos, São Paulo e a região de Sorocaba tiveram grandes influências da emigração espanhola, não por ser tratar de naquele período ser regiões solidária com os fatos ocorridos, mas por se tratar da necessidade de mãos de obra qualificadas para um país em expansão industrial e de siderurgia nas décadas de 40 e 50. Em 1975 teve fim o terror com a morte de Franco colocando fim ao período de ditadura na Espanha, talvez se o desfecho dos fatos em momentos decisivos tivessem tomado outros rumos a Espanha talvez viesse se tornar exemplo de liberdade.

Barcelona, 25 de Agosto de 1937.

Querida,
Escrevo essa carta para te dizer o quanto estou com saudades, como está nosso garoto, aposto que está dando trabalho, isso pela tamanha esperteza e curiosidade de uma criança saudável, e a nossa princesa, como está se saindo na escola com os novos amiguinhos, imagino que deva estar adorando, sem dúvida vocês são a maior riqueza na qual fui contemplado.
Meu bem, as coisas não sairão da forma com que imaginei, a busca pela liberdade na qual vim ajudar a conquistar não a encontrei, acreditei que iria encontrar pessoas comprometidas com a igualdade entre todos, acreditei que viria à Espanha livrar um povo do tirano que usurpou suas vidas simples e devolve-los a o eu estado natural da vida. Decepção, é assim que descrevo tal sentimento diante desses fatos. Acreditava que poderia juntos com os comunistas espanhois e apoiados pelos soviéticos, devolver o bem estar a esse povo, assim como eles, estamos entregues a sorte, já que não existe de fato um comprometimento com nenhum companheiro, tão pouco com esse povo.
Franco está avançando em cada rua, beco, vilarejo, província e executando qualquer cidadão sem distinção, velho, criança, mulher, todos que não se curvam diante de seu regime. A nossa bela Madri foi arrasada por aviões nazistas, o PCE e o PSUC, trairão os ideais da revolução nos sabotando. É triste ver essa realidade, crianças morrendo sem saber o porque desse conflito, nossos “companheiros soviéticos” e parte de alguns comunistas simpatizante do regime Soviético, dizem que é o preço a se pagar e vale apena esses sacrifícios, é justificável a morte deles, mero desprezo por todos, para eles tais vidas que nem sabe oque é violência, são apenas números computados como saldo positivo e negativo. Outro dia em um confronto em uma vila de camponeses, em meio a chuva de pólvora que estava por desvanecer qualquer vida que estivesse no caminho, um garotinho que me lembrou muito nosso pequeno, ele estava chorando com uma chupeta na boca e com as mãos tapando os ouvidos para abafar aquele ruido estrondoso que antecipava a morte, até aquele momento estava eu perdido achando que aquilo tudo era por uma causa, era justificável, e foi aquela cena em meio aquela chuva de pólvora que aquele garotinho me trouxe de volta ao meu eu, os dedos no gatilho travaram-se, os olhos não piscavam, foi como se estivesse morrido e ter sido ressuscitado, o mundo parou. Hoje estou segurando uma arma mas não mais seguindo ordens dos traidores da liberdade, estou com uma milícia que já está dada como empecilho, tanto pelos stalinistas como pelos franquistas, resistimos o quanto pudemos mas fomos traídos por nós mesmo, juntos com companheiros que partilham dos mesmo ideais que eu, estamos tentando chegar até o porto para embarcar em um navio e voltar para casa. As estradas estão bloqueadas, estamos estudando outras rotas até as docas, quero logo chegar a simples vida de operário mas ao lado da minha riqueza maior que são vocês, e foi por vocês que vim buscar a liberdade.
Não seja pessimista, más esteja preparada, se você estiver com medo, cante a nossa canção e isso fará com que ele se vá, esta noite de um beijo nas crianças um abraço apertado e as coloquem para dormir, assim, mesmo de tão longe estarei próximo até eles pegarem no sono. Me despeço e espero chegar o mais rápido até vocês.

Com amor; Papai!

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