São as coisas que estão a nossa volta

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terça-feira, 30 de março de 2010

Ensaios sobre a Guerra Civil Espanhola

Para entendermos sobre a guerra civil Espanhola, torna-se imprescindível remeter-mos ao passado, com a derrubada da casa dos Bourbons, pela invasão napoleônica na península ibérica em 1808, pois as consequências que viera a tona em 1936 foi mero desfecho da divisão que houvera entre as elites, absolutista e liberal, afrancesados e patriotas. Os primeiros viam a ocupação francesa como uma saída da decadência em que a Espanha sofria e via nos fato, a oportunidade de uma reforma política para reversão de tal processo em que os país estava mergulhado já há dois séculos. Para a burguesia liberal, toda e qualquer influencia que vinha do exterior tinha que ser vista com cautela, até pelo fato da ostentação de suas empreitada ao desconhecido e se tornar vitoriosos, com relação as conquista das colônias, principalmente americanas.

Foi na região portuária de Cádiz, onde não houve influência napoleônica, que a Espanha “democrática” obteve a primeira vitória, onde promulgada, ordenada uma nova Constituição, e que iria influenciar futuramente a península ibérica, tanto na Europa quanto na América. O antigo regime dera seu último suspiro em Cádiz, datado em 1812 foi proclamado a constituição liberal, porém inalteraram a instituição monárquica, e em 1814, o rei Fernando VII voltou a governar uma Espanha independente após o fim da fase napoleônica e negou-se a jurar a constituição, um monarca jamais poderia render-se a nação, “pois é o rei a personificação do Estado pelas graças de Deus”. Foi então por todo período do século XIX e início do século XX que, absolutista e liberais se chocaram em confrontos, à revolução Burguesa, de forma a produzir uma institucionalidade liberal-democrática nunca se concretizou. Foi tal desejo inamovível do rei governar sobre seu livre-arbítrio que fez uma sucessível onda de golpes militares, e que por vezes dera origens a guerras civis, antecedendo o estopim maior que foi em 1936, liberais e conservadores travaram enfrentamentos em três Guerras Carlistas entre, 1833-40, 1846-49 e 1872-76, nessa ultima os liberais chegaram até a proclamar a república, em 1873, mas em 1874 e experiencia nos moldes “democrática” perdera novamente para o poder da monarquia dando o poder ao rei Alfonso XII.

Com o retorno da família real, houve de certa forma uma estabilidade aparente, transformando a Espanha em uma monarquia constitucional, inspirando-se nos moldes Britânicos. Tal modelo fez também garantia de volta a legitimidade da dinastia Bourbon, visando assim manter os militares afastado da política, para isso os dois partidos se revesavam no poder, o Conservador e o Liberal tendo como arbitro o rei.

O regime de favores foi formado para garantir a manutenção do poder a burguesia, regime de restauração, e funcionou por cerca de um quarto de século, sendo que a maioria da população do país era do campo(analfabeta), e tinha uma escassa classe média urbana. Era oque fazia funcionar as engrenagens da nova Espanha. Porém em algumas regiões a sociedade começou a mudar , a Espanha começou a se industrializar, foi o caso das regiões do País Basco e da Catalunha, impulsionando a economia e o progresso para toda Espanha, também ali foi porta de entrada para vários imigrantes. Sem dúvida nenhuma, o choque entre culturas distintas fortaleceu o sentimento de identidade de bascos e catalães em relação ao restante da Espanha, a concentração de massas proletárias nas cidades do norte impulsionou uma formação política e de movimento operário, os anarquistas, muitos deles de descendência camponesa, das regiões rurais no sul da Espanha, tinham influência de uma utopia milenarista, até pelo fato da dominação dos latifundiários, eles se identificavam com o anarco-comunismo, com o auge da industrialização na região norte, eles migraram para o norte da Espanha, para trabalhar nas industrias que ali estavam a se instalar, foram suas influência que os leva a formar o primeiro sindicato de classe logo em seguida, até por semelhança em suas descendência rural, mas com uma posição voltada para o socialismo, os grupos socialistas também instalam um sindicato de classe. Assim então tanto um quanto o outro se faz participar da política em prol dos operariado Espanhol, logo em seguida os socialista almejam participar da politica institucional e forma-se o PSOE em 1879.

Os setores da classe média urbana, desencantado pelo atraso do país, almejando as liberdades democráticas que o revesamento entre Conservadores e Liberais não proporcionavam, viram no republicanismo o legítimo defensor de seus ideais, toda essa turbulência fez a Espanha se esquecer de sua ultima colonia, Cuba, que ficou com os EUA em 1898, o impacto econômico fora relevante, mas a moral que representava militarmente se fez evaporar, então rumores sobre as causas desse fato não agradou alguns intelectuais e coincidentemente os militares até então afastado da política, demonstrara desafeto com o desfecho do caso Cuba. Os nacionalistas catalães e bascos por sua vez viam o fim dos problemas apostando na independência em relação a Espanha, já que era a única região da península a se projetar industrialmente. Já os anarquista, esses apostavam nas ações diretas, abolir a fonte dos males, a coroa e a igreja, o estado e o clero, e para isso os métodos terroristas eram os mais plausíveis, pois toda repressão aos trabalhadores vinha dessa camarilha. Em 1909 as duas Espanha se enfrentaria mais uma vez, o local foi Barcelona, chamada de, a semana trágica, foi a recusa dos trabalhadores de servir o exército. Em 1917 em mais um episódio, uma greve organizada por anarquista e socialistas iniciou novos enfrentamentos, o Estado saiu vitorioso novamente, nesse período já esta claro que o parlamentarismo de 1876 esta ruindo, os conflitos nas ruas demonstra essa fragilidade, e em 1923 o rei Alfonso não se opõe ao golpe. Quem assume é Primo de Rivera, seguindo o modelo de Mussolini na Itália, substitui o liberalismo conservador por uma ditadura corporativista, e que veio afundar sete anos mais tarde. Em 1930 substituindo Primo de Rivera, quem assume é o então General Dámaso Berenguer, e em 1931 foi proclamada a segunda república.

Agora com o primeiro governo republicano, deu inicio a um grandioso projeto de reformas, separou a igreja do Estado, implementou a reforma agrária, educacional e trabalhista, descentralizou o Estado, dando estatuto de autonomia as regiões, mas o momento era delicado não só para Espanha, o mundo passa por uma grande depressão econômica generalizada, daí as tentações autoritária para restabelecer a ordem, era oque aspirava não só a Espanha naquele momento, Itália e Alemanha nazi-fascistas, Portugal, Turquia, Albânia, Iugoslávia, etc, todas essas, ditaduras.

Os trabalhadores de todas as classes ficou entre dois fogos, de um lado feriu a sensibilidade católica, de outro conseguiu satisfazer algumas das necessidades para o povo de forma rápida. As reformas republicana, sem querer acabaram ressuscitando a disputa entre as duas Espanhas, o clima de crise econômica reforçou as posições contrarias e a violência foi para as ruas, foi o troco das migalhas oferecidas pela repressão fascista. De um lado a direita assustada diante de uma possível revolução, demonstrava claramente seu flerte com o fascismo, a esquerda, esquerda atuante e livre, sem cabresto, impediu que deixassem desvanecer os resquícios de liberdade, não só da península ibérica, mas dos povos. Entre os dias 17 e19 de julho de 1936, um grupo de Generais rebelou-se contra o governo dando origem a um dos mais sangrentos conflitos do século XX.

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